sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Água, Rios e Aldeias - Parte III

Destas jornadas trouxe ainda duas belas histórias: da bravia Biscarrués que luta pela preservação do seu rio desde os anos 70 e do encantador Loire que conseguiu envolver a Administração Francesa, tendo ambos conseguido travar os transvases e barragens e transformar-se em pólos de desenvolvimento de turismo rural e de natureza.
"O rio Galego sofre graves impactos das represas, desvios para o regadio e derrames químicos, chegando contaminado e praticamente seco à sua foz. A Galliguera é um tramo de rio vivo, com uma singular beleza natural presidida pelos Mallos de Riglos. Projectou-se aqui, em 1970, a construção da barragem de Biscarrués, de 192 hm3.
A larga história de luta de oposição a este projecto, encabeçada por associações como a Coordenadora Biscarrués - Mallos de Riglos e Amigos da Galliguera, iniciou-se pouco depois, visto que a sua construção anularia as possibilidades de desenvolvimento de um vale em crescimento económico e populacional, seria o fim de algumas aldeias que apostam forte no seu presente e futuro.
Impossibilitaria os desportos de aventura (que dão trabalho a mais de 300 pessoas e dinamizam económicamente todo o Alto Aragão) e teria um impacto muito profundo na paisagem, fauna e flora, acabando com todo o valor simbólico e cultural que tem este espaço." Até os abutres escondem a cabeça para não verem.
"As gentes desta zona dizem "sim" ao rio e ao território, com mobilizações sustentadas ao longo de mais de 20 anos. Hoje planeia-se uma barragem menor (preparada para ser aumentada: já há 10.000 alegações contra) em vez de considerar as alternativas, que existem e são perfeitamente viáveis."
"Em finais dos anos 80, foi apresentado um ambicioso projecto de regularização do Loire, na sua cabeceira (nascente), mediante 4 grandes barragens e uma centena de quilómetros de diques. O último grande rio selvagem da Europa estava em perigo.
Felizmente, toda a população da bacia se mobilizou em defesa do rio, organizando o SOS Loire Vivante (reportagem Fr3 do 20º aniversário) e ocupando durante cinco anos o lugar onde se previa iniciarem-se as obras.
O Governo, não só desistiu dos seus projectos, como ainda, em 1994, aprovou o “Plano Loire Grandeur Nature”, cujo objectivo é preservar o Alto loire mediante uma gestão “leve” do rio que permita inclusive recuperar o salmão. No final de 1998 iniciou-se a demolição de várias represas que já tinham cumprido o prazo de concessão e que impediam a subida dos salmões para a desova.

Hoje o Alto loire não é apenas um dos santuários da natureza melhor conservados de França, mas também uma terra onde a sua população vive prosperamente graças a um cuidado turismo rural e de natureza." Exposição Fundação Nova Cultura da Água.
As gentes do Tejo não são menos capazes de defender os seus rios e a sua água.
Inspiremo-nos nestes exemplos de sucesso para sermos capazes de manter o que é nosso por direito natural - um rio vivo que nasce em Albarracin e desemboca na Grande Lisboa.

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