sexta-feira, 21 de maio de 2010

UM TEJO SUJO E ESTRANGULADO

Alejandro fala bem verdade quando afirma que "uma coisa é saber o que está a acontecer e outra é vê-lo com os seus próprios olhos".
Deixamo-vos aqui o olhar de dois amigos do Tejo que denunciam o estrangulamento que as barragens e o transvase causam a este rio, bem como testemunham a carga de poluição que nele é despejada em Espanha de modo a que chega a Portugal já na forma de esgoto, causando os fenómenos de eutrofização cada vez mais usuais.

EL TAJO ESTRANGULADO - Blogue "QUERENCIAS" da autoria de Miguel Ángel Sánchez
"Dois gráficos que falam por si. No reservatório Bolarque (província de Guadalajara), o rio Tejo divide-se em dois: um segue o seu curso natural, o outro vai até ao Mediterrâneo, através do Transvase Tejo-Segura.
O primeiro gráfico corresponde à água do Tejo que chega à barragem de Almoguera, a jusante de Bolarque, e que teoricamente é a que sai desta barragem pelo leito natural do Tejo.
Em segundo lugar, um gráfico que mostra a água que é bombeada através do Transvase Tejo-Segura nos últimos dez dias. A média da água transferida é de 16 m3/s, enquanto a que leva o próprio rio é de 5,6 m3/sg, ou seja, três vezes menos.
Cerca de 74% do caudal segue pelo transvase, enquanto o Tejo retem apenas 26%.
Cerca de 100 km a montante, em Trillo, a vazão média do rio Tejo durante esses dias foi de 35 m3/s. Assim, 100 km a jusante, o rio Tejo tem um caudal sete vezes menor.
Um autêntico disparate.
Mas não se fica por aqui. Esta semana, a afluência média anual nas barragens de Entrepeñas e Buendia foi cerca de 70 m3/s (soma do Tejo mais o Guadiela), que seria o caudal que deveria circular em Almoguera na ausência de regulação, em vez dos ridículos 6 m3/s. Portanto, passamos de 70 m3/s para 5,6 m3/s, deixando o rio com 8% do caudal possível. E sabendo-se que a água armazenada (92%) não serve para regular o Tejo, em si, mas que está destinada a seguir pelo transvase.
O Tejo, um exemplo de sustentabilidade na gestão dos rios ibéricos.
O rio Tejo estrangulado."

SOBREVOANDO O TEJO 
"No outro dia, aproveitei o bom tempo para sobrevoar o Tejo, desde Aranjuez até Valdecañas. Fiquei impressionado com várias coisas, não por serem novas, mas porque uma coisa é saber o que está a acontecer e outra é vê-lo com os seus próprios olhos.
A primeira, a junção dos rios onde o Tejo desagua no esgoto do Jarama, observa-se o trabalho de diluição que exerce o Tejo (que também não vem limpo de Aranjuez) sobre o caldo espesso e negros do Jarama.
Segundo, as numerosas manchas flutuantes que aparecem em todos os lugares (possíveis descargas) e outros já fixas no leito (possíveis depósitos em fundo baixos).
Terceiro, a sequência de barragens precedidas de açudes de laminação que acumulam nos seus muros de contenção espessas camadas de matéria em suspensão ainda não se afundou; não consigo imaginar a quantidade de sujidade acumulada nestes fundos.
Quarto, como o Tejo fica quase seco por vários quilómetros depois da barragem de Castejón, porque quase toda a água é canalizada para abastecer a central eléctrica junto ao Carpio de Tajo.
Não é à toa que Talavera está seca no verão.
Que desastre de rio, que porcaria fantástico!"
Alejandro.

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