sexta-feira, 14 de maio de 2010

NUCLEAR - ETERNAMENTE CONTAMINANTE - CRÓNICA "CÁ POR CAUSAS” - JORNAL "A BARCA” - 13 DE MAIO DE 2010

A extracção de urânio é onde se inicia a produção de energia nuclear visto que para o funcionamento das centrais nucleares é necessário este minério que não se encontra em todos os locais e que, além disso, existe em reduzida proporção nos lugares onde se encontra, exigindo o movimento de grandes toneladas de material geológico para obter uma pequena quantidade deste minério, que deve ser enriquecido para que possa ser posteriormente utilizado em centrais nucleares.
Em Espanha não existem minas de urânio tendo sido autorizada apenas a sua prospecção, enquanto em Portugal tem vindo a ser anunciada a pretensão da extracção de urânio em Nisa disfarçada de terapêutica para a redução da radioactividade natural com a qual as populações têm sabido viver ao longo dos anos e que apenas é objecto de preocupação quando a cotação do urânio sobe na bolsa.
Além do consumo e da poluição da água, a mineração das jazidas de urânio de Nisa localizadas em zonas sobranceiras ao rio Tejo envolve um risco de arrastamento de resíduos radioactivos para o seu leito pelas escorrências das chuvas e, consequentemente, a contaminação de sedimentos que prosseguem até à sua foz.
As cicatrizes destas minas ficariam marcadas na alteração do território e da paisagem, ao mesmo tempo que a difusão de poeiras radioactivas poderia afectar as povoações mais próximas e a saúde dos seus habitantes, como sucedeu com a população de Canas de Senhorim que ainda padece de diminuição da função tiroideia, reprodutiva, renal e as séries sanguíneas, de acordo com o Relatório Científico de 2007 – Minas de Urânio e seus Resíduos - elaborado pelo Grupo de Coordenação nomeado pelo Ministério da Saúde.
A contaminação das águas do rio Tejo pelas falhas repetidas da Central Nuclear de Almaraz é real e tem sido mais gravosa face à informação tardia e incompleta destes incidentes às populações afectadas.
De facto, os relatórios do Instituto Tecnológico e Nuclear(1) afirmam que é “notória a variação de concentração de actividade em substâncias radioactivas de origem artificial (3H) em Vila Velha de Ródão e ao longo dos meses com um valor máximo no mês de Agosto”, sendo que esta “variação está relacionada com a gestão das descargas de efluentes no rio Tejo, da Central Nuclear de Almaraz localizada em Espanha”.
Para evitar alarmismos explicam nos relatórios que “não foram detectadas substâncias radioactivas de origem artificial no ambiente em concentrações susceptíveis de causar efeitos nocivos na saúde humana. Deve assinalar-se, no entanto, a excepção do rio Tejo, onde os valores em 3H na água são superiores ao valor do fundo radioactivo” ao mesmo tempo que desvaloriza os níveis de radioactividade quando afirma que “mas, apesar disso, sem significado, sob o ponto de vista dos efeitos radiológicos.” A ambiguidade que esta conclusão gera no comum leitor exige a sua necessária clarificação.
E não existirão efeitos nocivos para a saúde humana resultantes da contaminação da água que sustenta toda a cadeia alimentar, nomeadamente, nas espécies piscícolas que nos alimentam?
Bem vistas as coisas, a energia nuclear comporta um significativo custo económico, ambiental e social associado à produção, transmissão e armazenamento (em cemitérios nucleares) dos resíduos radioactivos que fica por apurar e integrar no custo final suportado pelo consumidor.
Talvez a solução seja a opção por um plano energético alternativo baseado na sustentabilidade com o objectivo de desenvolver as energias renováveis, sustentáveis, geradoras de emprego e que não ponham em risco a saúde e a segurança dos cidadãos.
(1) Relatório Programas de Monitorização Radiológica Ambiental (UPSR-A, nº33/09) (Ano 2008) da Unidade de Protecção e Segurança Radiológica - INSTITUTO TECNOLÓGICO E NUCLEAR, I.P.

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