segunda-feira, 1 de março de 2010

AS ZONAS INUNDÁVEIS.......! INUNDAM-SE!!!!!

As grandes cheias sempre foram acontecimentos que se repetiam com regularidade para os quais as populações estavam prevenidas e tomavam precauções antes da subida das águas, causando poucos estragos apesar da dimensão que atingiam.
As cheias alternavam com as secas, às vezes, em cada centena de anos, às vezes mais, mas com a regularização dos rios através de barragens, aquedutos e outras obras hidráulicas, os períodos de retorno das cheias têm vindo a alargar-se fazendo com percamos a memória do curso do seu leito e que sejamos tentados a conquistar os seus espaços.
Mas mais tarde ou mais cedo o rio recupera o que é seu pela força da água.
Fixemo-nos na importante mensagem do texto que se segue: “É urgente empreender um ambicioso programa de ajuda às regiões autónomas e aos municípios para a relocalização das pessoas que vivem em situação de risco ao longo das linhas de água e dos leitos dos rios.”
E para refrescar a memória dos mais distraídos aqui ficam
as imagens da mais recente cheia do nosso belo Tejo.
Juan Carlos del Olmo y Alberto - 25 de Fevereiro de 2010
"Choveu muito no sul da Espanha estes dias e choveu no molhado. Evidentemente, tal abundância de chuva não é usual, embora quem sabe se o será no futuro, porque a verdade é que corresponde às previsões de especialistas sobre os impactos das alterações climáticas no Mediterrâneo. Mas, ao mesmo tempo, as grandes cheias dos rios são fenómenos bem conhecidos que se repetem com regularidade nas nossas latitudes. Às vezes, em cada centena de anos, às vezes mais, mas o facto é que a alternância das secas com as cheias faz fraquejar a nossa frágil memória. E esforçamo-nos, em vão, para conquistar terra aos rios, sem querermos pensar que a cheia virá, mais tarde ou cedo.
Provoca uma grande tristeza ver as imagens de pessoas que perdem tudo em poucas horas. E ainda mais com a certeza de que estas situações são evitáveis. As suas casas estão construídas, com o consentimento, senão com o incentivo da Administração, nos canais de escoamento das linhas de água, das ribeiras e nos leitos de cheia dos cursos médio e baixo dos rios.
Ainda assim, hoje é cientificamente e tecnicamente possível saber com precisão até onde pode chegar a cheia de um rio. De facto, a Directiva Europeia de Inundações obriga os Estados-Membros a fazer mapas de risco de carácter vinculativo para os processos de urbanismo e ordenamento do território, justamente para evitar que as cheias causem prejuízos materiais e humanos.
Também a legislação espanhola está muito avançada neste sentido, mas somos campeões em incumpri-la. Por um lado, importa realçar que as Administrações Hidrográficas carecem de meios, de apoio e de vontade política. Um problema agravado pela seu pessoal técnico, que muitas vezes se opõem as medidas de prevenção e controle de cheias para além da canalização e construção de barragens (o que aumenta o risco devido ao aumento da velocidade da água durante as cheias). E, por outro, a influência ainda enorme que têm os regantes e o poder local sobre estes organismos de bacias hidrográficas. Neste contexto, o facto é que o domínio público hidráulico apenas está delimitado e o mapeamento das áreas inundáveis de Espanha está por completar.
Apesar das catástrofes repetidas e mil vezes anunciadas, toda a Espanha está coberta de construções de habitação ilegais em áreas esculpidas pela água, alguns antigos e outros em pleno processo de construção, como a Cidade do Ambiente, em Soria, e tantos outros denunciados pela WWF, onde a água vai voltar para nossa grande surpresa.
Trata-se de dar espaço aos rios. De libertar os leitos de cheia, permitindo apenas usos que possam suportar as cheias. É urgente completar o mapa de zonas em risco de inundação em Espanha. É urgente que as Administrações das Regiões Hidrográficas emitam pareceres vinculativos sobre o planeamento urbano e o ordenamento do território das administrações locais e regionais. E é urgente empreender um ambicioso programa de ajuda às regiões autónomas e os municípios para a relocalização das pessoas que vivem em situação de risco ao longo dos canais. Porque, mais tarde ou mais cedo, por muito que nos falhe a memória, o rio vai recuperar o que é seu."

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