quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

TAGUS UNIVERSALIS - PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO NATURAL

Lisboa, 24 Fev (Lusa) - Estudantes, cidadãos e especialistas de várias áreas científicas vão reunir-se na quinta-feira no Mercado de Santa Clara, em Lisboa, numa conferência destinada a conhecer as potencialidades e vantagens da elevação do Tejo a Património da Humanidade.
A iniciativa é promovida pela Escola Profissional Almirante Reis, perto da estação de Santa Apolónia, e pela Associação dos Amigos do Tejo, que está a trabalhar com a associação espanhola Tajo Sostenible num projeto de candidatura transnacional do rio a património mundial, reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Segundo o diretor pedagógico da escola, Joffre Justino, à organização da conferência está subjacente o apoio à campanha, mas numa "lógica de aprendizagem, estudo e debate" que poderá depois resultar, com os alunos disponíveis, num conjunto de actividades de ajuda à concretização do projeto.
"Achámos que seria interessante para os alunos perceber a importância do Tejo enquanto património natural e histórico e enquanto elemento de mudança da própria sociedade, quer portuguesa quer espanhola - no fundo, o que podemos ganhar com a existência do Tejo", explicou à Lusa.
Joffre Justino sublinhou que a sessão servirá para reforçar a política de ensino do estabelecimento, inserindo os alunos no "ambiente da vizinhança" e motivando-os a partir de experiências práticas.
A conferência, que decorre entre as 14:30 e as 17:30, conta com intervenções do biólogo António Antunes Dias (antigo diretor de parques naturais), o historiador e museólogo António Nabais, o almirante José Bastos Saldanha (presidente da direção da Marinha do Tejo) e o presidente da Associação Amigos do Tejo, Carlos Salgado.
O público pode assistir ao encontro gratuitamente.
ROC.
Lusa/fim
Seixal, 24 fev (Lusa) - Manuel Lima, biólogo, que viveu sempre perto do Tejo e há décadas que o estuda, considera que o rio é extremamente rico em termos naturais e patrimoniais, tendo todas as condições para se candidatar a património mundial.
A ideia de apresentar à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) uma candidatura do rio Tejo a património mundial partiu da Associação dos Amigos do Tejo e da associação espanhola Tajo Sostenible.
Em declarações à Lusa, o biólogo Manuel Lima, autor de diversos livros sobre o Tejo, o seu estuário, fauna e flora, afirmou que o rio tem uma mão cheia de argumentos a seu favor: “É o maior rio da Península Ibérica, com cerca de 1070 quilómetros, é o maior estuário da Europa Ocidental e um dos dez maiores do mundo, e é riquíssimo em termos de património natural e cultural”, enumerou.
O biólogo sublinha que aqui se encontram “muitas espécies em vias de extinção, sobretudo no médio e alto Tejo, como a cegonha preta, o abutre negro, ou a águia imperial ibérica”.
Manuel Lima considera que é aqui, na Baía do Seixal, que se situa uma das maiores riquezas ornitológicas do rio: “Passam por aqui sobretudo aves migratórias, que no inverno chegam a números próximos dos 100 mil, como o alfaiate, que é símbolo da Reserva Natural do Estuário do Tejo, mas também pilritos, rolas-do-mar, pernas-vermelhas, pernas-verdes, pernas-longas, muitas espécies de patos”, disse.
“Isto é um santuário para as aves, mesmo em termos internacionais. No caso do alfaiate, por exemplo, 60 por cento dos indivíduos da espécie a nível mundial encontra-se aqui no inverno”, acrescentou.
Embora reconheça que “este Tejo ainda não é aquele que todos desejam ter”, o professor garante que “se percebe que tudo está, de alguma forma, a melhorar”: “A evolução em termos de diminuição da poluição e de aumento da consciência ambiental é muito significativa”, afirmou.
“A maior parte das autarquias ribeirinhas portuguesas, que são 28, bem como as espanholas, estão preocupados com a transformação do rio, depois da forte pressão das grandes indústrias que se instalaram à sua beira no século passado”, acrescentou.
Manuel Lima lembra que “o surgimento de novas espécies no estuário” é a prova de que “o rio está no caminho certo para poder ser classificado como património mundial”: “Ultimamente apareceram aqui colhereiros, muitos flamingos, gansos do Nilo… aves muito raras. E algumas espécies voltaram, como a corvina, o cherne, o choco”, disse.
Para o biólogo, a candidatura do Tejo a património mundial terá ainda a vantagem de sensibilizar e motivar a sociedade, as empresas e os governantes para a importância de respeitar o rio, preservá-lo e promovê-lo: “Ainda não perdi a esperança de ver os golfinhos de volta ao Tejo”.
JYF.
Lusa/Fim.
Vila Nova da Barquinha, Santarém, 24 Fev (Lusa) - O movimento PROTEJO considera positiva a ideia de uma candidatura do Tejo a Património Mundial da Unesco mas alerta que “nenhum dos países envolvidos” está a realizar os esforços para proteger o seu património natural.
Paulo Constantino, porta-voz do movimento, disse à agência Lusa que a candidatura ibérica pela divulgação e valorização do património que é o rio Tejo é “positiva”, afirmando que “nenhum dos dois países envolvidos está a realizar os esforços necessários, nem sequer a percorrer o caminho adequado para proteger o património natural do rio Tejo, que é o suporte de toda a actividade humana e cultural que nele se desenvolve”.
A candidatura, que conta com a adesão de 20 municípios ribeirinhos de Portugal e Espanha, “é uma mais-valia” para o Tejo, afirmou o dirigente, tendo acrescentado ser este “o maior rio da Península Ibérica, com uma vasta bacia hidrográfica, o maior estuário e a maior reserva de água da Europa, para além de outras valências tanto naturais, de paisagem e de biodiversidade, como de património histórico e cultural”.
“Este património tão valioso quanto complexo justifica uma candidatura que se apresenta como importante, quer pela divulgação do património construído e natural do rio, quer pelo facto do seu sucesso poder permitir a protecção deste “bem” através de um programa ibérico “para a recuperação e valorização integral do Tejo e das frentes de água, desde a nascente até à foz”, afirmou.
Segundo Paulo Constantino, porta-voz de uma ONG que envolve 600 cidadãos, associações e autarquias, a candidatura à UNESCO envolve um conjunto de exigências e um trabalho profundo de fundamentação que “deverá demorar alguns anos”, tendo considerado “determinante” que a candidatura seja única, “do Tejo no seu todo”, e contando com o envolvimento dos dois Estados, “que a apoiem e deem o seu aval”, para que seja aceite.
“O sucesso da candidatura depende em muito da capacidade de ambos os países garantirem as condições para a preservação do Tejo como um rio vivo, do seu enquadramento paisagístico natural e dos seus ecossistemas naturais, onde se integram as espécies animais, com especial relevo para as piscícolas, como a lampreia de mar”.
O responsável lembrou a “iminência de várias ameaças ao património natural” do Tejo, desde a política de transvases em Espanha até às barragens de Almourol e Alvito, sendo que “qualquer delas lhe retirará a beleza natural de ser um rio vivo em Portugal e colocará em causa quer a qualidade da água quer o desenvolvimento de espécies piscícolas relevantes para o património gastronómico”.
Lançada em 2008 pela Associação Os Amigos do Tejo e os parceiros espanhóis da Tagus Sostenible, a intenção de elevar o Tejo Ibérico a Património Mundial da Humanidade, sob a designação de Tagus Universalis, surge como um “reconhecimento da sua mais valia patrimonial e ambiental e com a finalidade de melhor proteger o rio e de o conservar futuramente”.
As associações promotoras preparam o 3.º Congresso do Tejo, previsto realizar-se em Toledo no próximo mês de junho.
MYF.
Lusa/Fim

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