terça-feira, 1 de dezembro de 2009

SALVAR O TEJO - IMPERATIVO NACIONAL

Desejo aqui manifestar o meu apreço e admiração por Armando Fernandes que mantém sempre uma atitude de reflexão crítica e evidencia de forma inequívoca o que está em causa: o Tejo, um imperativo nacional.
De certa forma, esta sua atitude foi também para mim factor de motivação quando em tom de gracejo me dizia "mas você só fala em comboios?" e eu lhe respondia "um dia vamos ter de falar sobre a água do Tejo".
Obrigado e bem haja, Armando Fernandes!
Opinião – O Ribatejo – 27 de Novembro de 2009
A espuma dos dias: Salvem o Tejo

http://www.oribatejo.pt/2009/12/a-espuma-dos-dias-salvem-o-tejo
por Armando Fernandes
O Tejo, tema querido de centenas de poetas e escritores, corre sérios riscos. O grego romanizado Estrabão, o humanista André de Resende, ou o genial Camões, caso lhes fosse possível contemplarem o Tejo actual, dos seus olhos brotariam grossas lágrimas ante o cruel definhamento da formidável estrada fluvial que foi. Estes e outros autores – Francisco Rodrigues Lobo, Miguel Torga – escreveram o Tejo com um dom de observação que não cessa de nos maravilhar. Porque era uma grossa corda de água repleta de riquezas, e não a melancólica recordação em que se transformou nos dias de hoje.
Por falta de tempo não tenho acompanhado as actividades de um movimento constituído em Vila Nova da Barquinha, cuja primacial missão é defender e valorizar o rio. Este movimento parece estar em sério descontentamento com o mundo devido ao Tejo. Após o ter perscrutado no passado domingo, existem razões para uma profunda preocupação e um sentimento de revolta contra a radiosa indiferença do poder ante os atentados cometidos contra ele, e que o estão a estrangular. O rio nesta altura não passa de uma imitação burlesca perante os olhos desprevenidos do passante, é uma história dramática para todos quantos vivem junto a ele, e desde sempre o perceberam como elemento fundamental nas suas vidas, desde as referências simbólicas que encerra, até aos rugidos e golpes para lá das margens nos momentos de cheias, passando pelo suave deslizamento na maior parte do ano oferecendo fruições de todo o género às gentes ribeirinhas.
O testemunho pessoal do visto pouco ajudará na defesa do Tejo, a incessante acção de Paulo Constantino agita algumas pessoas, a acção da Câmara da Barquinha vale mais, mas terá de valer ainda mais. O seu presidente, Miguel Pombeiro, vai obrigar-se a fazer perceber aos restantes autarcas que a revalorização do rio compete a todos, vai irritar-se muitas vezes e até, talvez zangar-se, mas não lhe resta outra alternativa.
A causa do Tejo é um imperativo nacional, pois a não se atalhar a doença que o acometeu a milenar via civilizacional entrará em agonia e morrerá em muitos pontos. A calorosa diversidade do rio, as arquitecturas nele representadas, a história e acima de tudo a fonte de vida que ele deve ser, são poderosos argumentos a esgrimir junto do governo, dos deputados e do presidente da República de modo a os obrigar a percorrerem uns quilómetros junto ao rio, pelo menos, entre Santarém e Abrantes. Não há tempo a perder.

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