O Tejo é um grande negócio em Espanha pelos transvases para a irrigação de explorações agrícolas e investimentos imobiliários e turísticos do Levante Espanhol, pelo abastecimento para consumo humano e pelas hidroeléctricas para a produção de energia.
O rio e os caudais são elementos secundarizados pelo lucro imediato obtido em Espanha pela venda da água da bacia do Tejo para os vários usos.
As nascentes e os afluentes na zona oriental do Sistema Central (Jarama e Alberche) sofrem uma grande pressão, exercida tanto pelo transvase Tejo - Segura como pelas próprias procuras da bacia, em especial, o abastecimento de água a Madrid, para consumo humano de mais de 6 milhões de pessoas.
Neste tramo do rio os recursos hídricos são limitados com uma perda média das entradas de água na cabeceira do Tejo, de 50% nos últimos 40 anos. Isto faz com que a água seja toda armazenada nas barragens de Entrepeñas e Buendia e apenas seja libertada para os rios quando ocorrem chuvas intensas, o que ainda não tem acontecido na zona oriental da bacia do Tejo espanhol.
Além disso, ainda têm que satisfazer uns "excedentes" artificiais de 600 hm3 destinados a transvases, que não existem e que são “criados”, deixando os rios sem caudal, começando pelo próprio Tejo, cujo caudal real em Aranjuez não ultrapassa os 3 m3/seg. ou limitando-se a 0 m3/seg., como eu próprio testemunhei, em Talavera no verão passado.
A exploração do Tejo na Estremadura é muito diferente, onde, com excepção da cabeceira de Alagón cuja utilização é para a irrigação, e parte da Tiétar, o verdadeiro uso é com fins hidroeléctricos. Com efeito as barragens de Azután, Valdecañas, Torrejon, Alcântara e Cedillo são privadas e geridas pela Iberdrola, operando em conjunto com a central nuclear de Almaraz.
A principal função de Alcântara é hidroeléctrica, embora, teoricamente, lhe seja atribuída a função de laminar as cheias em Portugal, mas como demonstra a evidência, esta é uma função secundária e, de facto, se no final de Março tivesse continuado a chover intensamente durante mais uma semana teríamos tido grandes inundações no Tejo em Portugal, porque todas as barragens de Alcântara, Valdecañas e Gabriel y Galán se encontravam completamente cheias, todas com a capacidade de armazenamento na ordem dos 90%.
De acordo com especialistas, para ter capacidade de laminar as cheias Alcântara deveria manter, durante os meses de inverno, uma capacidade de encaixe de água de 600 hm3, ou seja, não deveria ultrapassar 80% da sua capacidade de armazenamento.
Estas barragens são privadas com uma gestão privada cujo principal objectivo não é evitar as inundações, não é garantir a segurança das populações, não é manter caudais que permitam a preservação do ambiente e a vivência social e cultural do rio, mas sim unicamente a maximização do lucro da forma mais imediata possível.
São interesses privados onde o governo Espanhol não interfere, fazem e desfazem à sua vontade, e toda a água que sai para Portugal sem ser turbinada nestas cinco barragens é considerada um "desperdício" de dinheiro para a entidade gestora das barragens, a Iberdrola.
Esta é a verdadeira origem das maleitas do rio Tejo, retalhado e vendido em negociatas entre empresas e associações de agricultores, de abastecimento de água e hidroeléctricas, como se a água e o rio não fossem entidades naturais que devemos respeitar e preservar.
E não haverá actividades económicas que respeitem um equilíbrio entre a exploração da água e a preservação das condições ambientais dos seus ecossistemas, como sejam, a pesca, a gastronomia, a agricultura biológica, o turismo cultural e de natureza?
Não serão precisamente estas actividades que são exploradas no curso do rio Tejo em Portugal e que a sobre exploração do rio em Espanha ignora e vem prejudicar ao retirar-lhes a água de que necessitam para subsistir?
Onde está a indignação e as vozes dos arautos que tantas vezes ouvimos defenderem a economia e os postos de trabalho, quantas delas em prejuízo da natureza? Alguns pedem centrais nucleares e a exploração do urânio de Nisa em zonas sobranceiras ao rio Tejo.
Servem outros interesses e, portanto, temos que ser nós, os cidadãos, a defender a subsistência económica, ambiental e cultural do rio Tejo pela gestão sustentável de toda a sua bacia!
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